14 de setembro de 2013

O funeral de Nilton Rosa

Esta semana, no dia 11 de setembro, completaram-se 40 anos do golpe militar ocorrido no Chile, que derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende, dando início à sangrenta ditadura de 17 anos do general Pinochet. A morte de Nilton Rosa, ex-aluno do Julinho e militante do MIR, está intimamente ligada a este golpe militar. Nilton foi assassinado três meses antes, por membros da ultradireita golpista, quando participava de uma manifestação de apoio ao governo de Allende.


A fotógrafa norte-americana Amy Conger estava vivendo no Chile, onde lecionava na Universidade, quando Nilton Rosa foi assassinado, no dia 15 de junho de 1973. Dois dias depois ela acompanhou o funeral e, por ter contatos entre os militantes da esquerda chilena, foi autorizada a fotografar o cortejo, que contou com a presença de cerca de cem mil pessoas. Após o golpe de 11 de setembro que colocou o general Pinochet no poder, pelo temor de ter suas fotos apreendidas e utilizadas para identificar os militantes da esquerda, Amy destruiu as fotografias reveladas e enviou os negativos para seu país natal. Em 2010 ela publicou o livro Nilton da Silva Rosa: June 17, Santiago. "We Don't Forget the Color of Blood". As fotografias mostram um panorama dos movimentos de esquerda da América Latina e da comoção causada pelo assassinato de Nilton. O nome completo de Nilton (Nilton Rosa da Silva) encontra-se invertido no título do livro por uma confusão, pois na língua espanhola o sobrenome paterno costuma ser o segundo nome, antecedendo o materno. 

* Nilton da Silva Rosa: June 17, Santiago. "We Don't Forget the Color of Blood". Amy Conger. Nolvido Press, 2010 (link para adquirir o livro, é possível visualizar todo o livro no site). 

Sobre Nilton, a autora escreveu:
Nilton, um líder marxista do sul do Brasil, precisou entrar na clandestinidade. Ele deixou seu país em 1971 como milhares de outros. O hino chileno descreve o Chile como "un asilo contra la opresión". Ele ingressou no Departamento de Literatura Espanhola da Universidade do Chile.
Ele era conhecido como um falador incessante, um galanteador incansável, um trovador com o violão, um marxista internacional, um líder natural e um poeta. Seus companheiros de curso, seus colegas de faculdade, o amavam.
Ele também sabia o que havia ocorrido e estava ocorrendo no Brasil então, e contava a seus companheiros, em detalhes, em technicolor, sobre tortura, desaparecimentos e assassinatos. Ele havia estado lá, participado. Como uma multidão de chilenos, eles acreditavam que isto nunca poderia acontecer no Chile pois, eles explicaram, eles tinham a mais longa tradição democrática de qualquer país na América Latina. (Quantas vezes eu ouvi isso?) Ele costumava responder: Que es libertade?


As ruas pertenciam a Nilton naquela manhã. As calçadas estavam lotadas. Eu nunca imaginei que houvesse tantos apoiadores da UP [Unidad Popular, coligação pela qual Allende fora eleito] em Santiago dispostos a caminhar 10 km até o Cemitério Geral. Ali estavam de fato milhares de bandeiras e coroas de flores de todos os partidos de esquerda da América Latina, incluindo aqueles que sequer tinham a aprovação do MIR.
Para mim, as cenas mais memoráveis foram os estudantes com bandeiras erguidas no teto da Escola de Medicina gritando "Nilton da Silva?" e a multidão respondendo "Presente"; os estudantes em ambos os lados da rua baixando suas bandeiras quando o carro fúnebre de Nilton aproximava-se e passava; o Comitê Político do MIR totalmente exposto a um ataque cirúrgico dos fascistas, encabeçando a marcha dos enlutados; e as milhares de pessoas erguendo seus pulsos, subindo na columbaria, cantando a Internacional, enquanto o caixão é colocado em seu nicho.
As pessoas pareciam compreender que aquela seria a última grande manifestação da esquerda. Nilton representou seus objetivos e não apenas aqueles do povo chileno mas das pessoas anti-imperialistas e militantes ao redor do mundo que estavam tentando distribuir riqueza através dos meios democráticos.

Outro livro de Amy Conger resultado de sua estada no Chile entre 1972 e 1973 é Bienvenido to Nueva Havana: Santiago, Chile 1972-1973. Este livro reúne imagens da vila Nueva Havana, em Santiago, uma experiência de comunidade autogestionária iniciada em 1970, que sofreu intervenção dos militares após o golpe. Também estas fotografias foram escondidas e só foram publicadas recentemente pelo risco de serem utilizadas pela repressão da ditadura de Pinochet na identificação de apoiadores do governo de Allende.

Fotografias e citações: Amy Conger.

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