Na
última segunda-feira, dia 17, o Ministério Público Federal denunciou seis
pessoas por envolvimento no atentado ocorrido no dia 30 de abril de 1981, no
Riocentro, durante o show em comemoração ao dia do
trabalhador. Na ocasião, uma bomba explodiu dentro de um automóvel Puma, no
colo de um sargento do exército que morreu instantaneamente. Durante anos o exército
sustentou a versão de que os militares não eram responsáveis pelo atentado, e
sim vitimas. O
objetivo era fazer parecer que os autores do atentado seriam militantes de movimentos
de esquerda contrários ao regime militar, para gerar pânico no público e na
população em geral, e difundir na opinião pública a ideia de que era necessário
um endurecimento do regime, em nome da segurança.
O
atentado foi planejado inicialmente para ocorrer no dia 1º de maio de 1980, mas
foi postergado para o ano seguinte. De acordo com a investigação do MPF, o
show, que ocorria anualmente, tinha um caráter de resistência à ditadura, e visava
arrecadar fundos para o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Por isto, um ataque
a este evento teria, para os militares, um caráter simbólico muito forte, tornando-o
um alvo preferencial para um atentado.
Segundo
as investigações que baseiam a denúncia do Ministério Público Federal, foram
formadas diferentes equipes para executar o plano, que envolvia quatro
bombas. A primeira equipe era responsável por instalar três bombas no pavilhão.
Dela faziam parte os dois homens que chegaram ao local no Puma, Wilson Luiz
Chaves Machado (“Dr. Marcos”, atualmente coronel reformado, proprietário do
veículo, que ia ao volante) e o sargento Guilherme Pereira do Rosário (“agente
Wagner”, no banco do passageiro). A missão falhou porque uma das bombas
explodiu no colo do sargento, causando a sua morte e ferindo gravemente o
motorista.
A
segunda equipe era chefiada pelo coronel Freddie Perdigão Pereira (“Dr. Flávio”),
e tinha a missão de detonar uma bomba na estação de eletricidade do local, mas
o explosivo não teve potência suficiente e não poderia causar um apagão no
local, pois o Riocentro tinha geradores próprios.
A
terceira equipe deveria, logo em seguida, prender inocentes e responsabilizá-los pelas explosões. Por fim, a última equipe deveria forjar
evidências de que o ato era obra de organizações de esquerda, fazendo
pichações com a sigla VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), e encaminhando
aos jornais um manifesto assinado como “Comando Delta”.
O MPF
levantou novas provas a partir dos depoimentos de 42 testemunhas e 38 volumes
de documentos, e identificou os militares por trás do ato terrorista, seus codinomes
e o papel de cada um. Entre os depoimentos, destacam-se o da viúva do sargento
Guilherme, que afirmou ter visto agentes do DOI (Destacamento de Operações de
Informações) queimando documentos do marido, e o do major reformado Divany
Carvalho Barros, que admitiu ter ido ao local da explosão apagar provas que
pudessem incriminar os militares.
Foram
incriminados, além do próprio major Divany, o coronel Wilson (que dirigia o veículo),
os generais reformados Nilton Cerqueira (então Comandante Geral da Polícia
Militar do Rio, que suspendeu o policiamento na noite do atentado) e Newton
Cruz (então chefe da agência central do SNI, que foi informado do plano pelo
menos duas horas antes e não tentou impedi-lo), o ex-delegado Claudio Antonio
Guerra (responsável por prender pessoas inocentes e incriminá-las pela explosão),
e o general reformado Edson Sá Rocha (que um ano antes defendeu o plano de um atentado
a bomba). Quatro deles foram denunciados por homicídio doloso. Os outros crimes
são formação de quadrilha, favorecimento pessoal e fraude processual. Se forem
condenados, as penas podem passar de 66 anos de prisão. Outras nove pessoas foram identificadas como responsáveis pela execução do plano, mas já morreram. O Exército decidiu não
se pronunciar sobre o caso.
Foto: Carta Capital |
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